Hilda Hilst ganha casa na FLIP

“Pra onde vão os trens, meu pai? Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti.” Este trecho marca o célebre livro Tu não Te Moves de Ti, da autora brasileira Hilda Hilst. Nascida em 1930 na cidade de Jaú, interior de São Paulo, a escritora conhecida por ser um dos pilares da literatura contemporânea nacional, nos proporcionou reflexões complexas através de seu vasto trabalho contando histórias que variam entre prosa, poesia, dramaturgia e erotismo, resultando em 40 publicações. Apelidada de Unicórnia por Caio Fernando Abreu, fonte de inspiração para composições de Adoniran Barborsa e passando por um breve romance com o ator estadunidense Dean Martin, Hilda chegou a comentar em entrevista presente no livro Fico Besta Quando me Entendem que sua obra nasceu por causa do pai: “Queria que um dia ele dissesse que eu era alguém. É isso.”

Lançado em 1982, A Obscena Senhora D acompanha uma enredo considerado por alguns leitores como desconexa e difícil de compreender devido à narrativa que intercala entre sentimentalismo terno e erotismo escrachado, abusando do fluxo de consciência incomum, que certamente pode ser comparada à escrita de William Faulkner (O Som e a Fúria). Esta incompreensão do público fez brotar na autora certa frustração ao perceber que sua obra não era consumida conforme esperado, mesmo traduzida em francês, italiano, inglês e espanhol.

De personalidade forte, a característica mais notável de Hilda era a falta de filtro ao dizer, certas vezes, aquilo que não era permitido na TV ou jornais se considerarmos a censura imposta pela Ditadura Militar. É recorrente também, haver sintomas de “perda” da linguagem, porque ao buscá-la, a escritora aguça a luminosidade do vazio dentro do próprio vazio, esgotando as chances de uma análise delineada do seu universo linguístico.

Quatorze anos após sua morte, Hilda não poderia reclamar a falta de interesse nos textos produzidos. Ela será homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), festival literário que ocorre anualmente desde 2003 às margens do rio Perequê-Açu. Feito isso, o Instituto Hilda Hilst uniu-se à editora Companhia das Letras e Hysteria para apresentar um espaço inédito: A Casa Hilda Hilst. Entre os dias 25 e 29 de julho os visitantes passarão pela experiência de estarem mais próximos da obra da autora. A proposta criativa é reconstruir a Casa do Sol, chácara onde viveu até 2004, mostrando imagens dos locais favoritos como, por exemplo, uma escrivaninha. Entre as atrações, serão disponibilizados livros aos espectadores a fim de incentivá-los a lerem trechos de sua obra nos saraus organizados no espaço e mais três vídeos: depoimentos de amigos da escritora, uma performance em vídeo de Tainá Muller – atriz que viverá Hilda no cinema e também guiará visitas pela casa – e projeções de desenhos inéditos feitos pela autora. Na noite de 28/07, o evento exibirá o filme “Unicórnio”, inspirado no trabalho homônimo da literata, sob direção de Eduardo Nunes. Confira aqui o trailer oficial:

Segundo descrição do site, a Flip oferece uma programação que mantém seus princípios fundadores: originalidade, intimismo, informalidade, o encontro singular entre escritores e público e, acima de tudo, ações de permanência. Flipinha, FlipZona e FlipMais compõem o programa da festa, com atividades que combinam literatura infanto-juvenil, performance, debates, artes cênicas e visuais.

Ficou curiosa? Adquira aqui seu ingresso e conte-nos depois como foi <3

Compartilhe essa publicação

Revista Digital Yacamim

Instagram @yacamim