Frida Kahlo: um sentimento posto em cores

Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon. Um nome forte e com muita personalidade, assim como sua dona, mais conhecida por Frida Kahlo: uma das figuras mais importantes no âmbito cultural e político do México.

A biografia de Frida é repleta de acontecimentos trágicos, e graças aos registros feitos por ela mesma em seu diário pessoal, sabe-se de muitos detalhes a respeito da vida da artista. O fato mais marcante de sua trajetória é também o que a fez começar a pintar. Trata-se do acidente que Frida sofreu quando tinha dezoito anos de idade, o qual comprometeu a coluna dela para sempre. Como ela sofria de muitas dores e quase não podia sair da cama, seu pai adaptou um cavalete e um espelho no teto do quarto de Frida, e a partir daí ela começou a pintar. Seu primeiro trabalho se chama “Autorretrato com vestido de veludo”.

Autorretrato com vestido de veludo (1926) Créditos: Art History Feed

O ‘realismo’ de Frida

Quando a artista começou a fazer sucesso após sua primeira exposição individual, em 1939 em Nova York, muitos críticos alegaram que se tratava de uma artista surrealista por conta de seus traços extremamente simbolistas. Mas Frida sempre rebateu essas alegações pois dizia que nunca pintava seus sonhos, mas sim sua realidade, uma vez que o assunto mais conhecido por Frida era ela mesma. Nesse sentido, os temas mais recorrentes em suas obras são acontecimentos de sua vida, suas paixões, seus sofrimentos, refletidos muitas vezes no autorretrato e em cores vibrantes e traços marcantes.

Sem Esperança (1945) Créditos: FridaKahlo.org

Inspirações e aspirações

Frida era fascinada pelos arquétipos mitológicos das culturas pré-colombiana e egípcia, demonstrados em suas pinturas através de elementos da natureza, da lua e conceitos como fertilidade e renovação. Além disso, há forte presença de arquétipos femininos na obra de Frida, sendo eles a mãe, a deusa, a criadora e a sofredora.

Apesar desse viés mítico, intimista e  espiritual, a obra de Frida Kahlo tratou de temas cruelmente reais e femininos, como os abortos, a violência contra a mulher e questões de sexualidade. Há quem diga que Frida era uma feminista por essência, mesmo que ela nunca tenha se declarado como tal, pois ela foi uma mulher rebelde e convicta de seus ideais.

Moses (1945) Créditos: Arthive.

O ônibus, 1929

Frida nunca retratou explicitamente em seus desenhos o acidente de ônibus que a comprometeu, mas existem muitos trabalhos que remetem ao acontecido. O mais famoso deles é “O ônibus”, no qual uma criança observa uma paisagem tranquila onde, ao fundo, há uma loja chamada La Risa (O riso), o que representa de forma delicadamente humorada os momentos antes de acontecer o acidente.

O ônibus (1929) Créditos: FridaKahlo.org

Autorretrato com colar de espinhos e beija-flor, 1940

Nessa obra, Frida usa de imagens pré-colombianas de cristãs para retratar a ela mesma como uma mestiça orgulhosa, de ascendência europeia e ameríndia. O colar de espinhos revela suas raízes e os espinhos fincados no pescoço da artista fazem referência ao sofrimento de Cristo, expondo assim o seu próprio sofrimento. O beija-flor é um símbolo mexicano de sorte no amor, porém o animal está morto, o que representa a aura de amargura que sempre pairou sobre as relações amorosas da pintora.

Autorretrato com colar de espinhos e beija-flor (1940) Créditos: Google Arts & Culture

As duas Fridas, 1939

Numa das mais célebres obras da pintora, ela apresenta dois autorretratos, trazendo à tona questões de identidade. Um dos pontos que mais chama atenção na obra são os trajes das duas Fridas, que representam justamente as heranças da artista. No primeiro, o vestido de estilo vitoriano remete às suas raízes europeias, e no segundo, Frida veste um traje chamado tehuana, o qual representa sua origem mexicana.

As duas Fridas (1939) Créditos: Elo7

Mesmo passados 65 anos de sua morte, Frida Kahlo não deixa de ser esse mito que se tornou, por conta de sua profundidade sentimental exposta de forma vibrante e única. Ícone artístico, mulher admirável e feminista por essência: Frida ainda hoje se mantém no caminho da transgressão, mostrando ao mundo a maneira poderosa com que transformou sofrimento em arte.

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